
Nem sempre as chances que temos podemos agarrá-las, às vezes caem diante de todas as facilidades. Entretanto quem nos disse que seria fácil? Vamos carregando uma culpa pelas nossas derrotas que as vitórias fazem reascender a paixão pela vida. Assim vinha caminhando pela Rua João Marcelo, com lágrimas nos olhos, não de tristeza, mas pela certeza de que tudo iria recomeçar. Entretanto algo para recomeçar tem que chegar ao fim. Sua esperança havia mudado de estado com o passar dos anos. A face entrecerrada em uma careta tola, enquanto alguns o encaravam com rancor, imaginando ser este algoz da simplicidade aparente da convivência de todos. Colocou a mão no bolso procurando seu celular; o que foi em vão. Ficou imóvel diante da rua, em baixo de um semáforo enquanto todo a seu redor se movia. Uma mãe levava uma criança em seus braços apressada com o tempo da creche e do mau tempo, passando ao seu lado sem notar sua presença. Igualmente esbarrava em seu ombro um homem de gravatas segurando uma pasta em seus braços, um pouco torto pela falta de equilíbrio de sua destreza. Uns meninos correndo de outros meninos se divertiam, parecendo um crime ante a seriedade do mundo, nos ensinando como tudo se mantém tão sereno. Os carros não silenciavam diante o caos criado por eles mesmos, fazendo tudo parecer tão confuso. Uma velha carregando na cabeça um saco de roupas passeava com dificuldades entre inúmeras pessoas que zanzavam por ali com finalidades diversas. Pingos de chuvas abruptas do céu, tingem de úmido o ar que não esperava tanto perfume. O cheiro de chuva arrepiava a todos com uma paixão pela natureza reverenciando nossos instintos mais antigos. Nisso uma lágrima toca o asfalto, confundindo o oceano dos céus com a gota do homem. Ninguém disse realmente que seria fácil. Continuou perplexo com suas vontades internas, não interpretava nada, o progresso perdera seu sentido em presença aos sentimentos que o atormentara. A saudade o assolava, o medo o apunhalava pelas costas, enquanto a chuva o molhava imperdoavelmente, não havia por que se mover, tudo já se movia. O tempo passava sem se perceber que realmente passara. A música tocando sem fim. Pessoas dançando ao seu redor qualquer som. Não havia sentido naquilo que João procurava, ninguém procurava junto com ele, pelo menos não muitos, “sinto tanto por tudo ser assim tão difícil, por que não podemos chegar a um lugar comum, onde esta o verdadeiro progresso? Em nós? Nos segredos do oceano que nos inquieta? Vejam estas pessoas andando ao redor, sorrindo ao acaso sem ver que elas são prisioneiras, são todas ligadas por algo em comum e separadas por este mesmo algo em comum, e quando rompemos com este senso do ordinário que nos mantém prisioneiros somos crucificados em nossas próprias idéias. Aonde vou agora, não sei o que fazer...Perdi a vontade de andar, acho que vou me sentar aqui e chorar até as lagrimas se secarem, os soluços me impedem de pedir qualquer coisa pra alguém...Sinto falta do mundo que havia construído, agora só vejo fim em tudo...Não posso mais me olhar no espelho sem ver aquilo que mais almejava, vou sentar aqui e deixar a chuva me afogar...O que eu faço? Ninguém me avisou que seria assim tão difícil”. Levantou-se do chão asfixiado pelo próprio choro e caminhou pela rua enxugando inutilmente os olhos, sendo que a chuva ainda o inundava com seu crepitar violento. A maioria das pessoas corriam pra debaixo dos toldos e lojas abertas, alguns poucos aventurados ainda andavam indiferentes a chuva, como joão que seguiu não sabendo para onde seguir. Começou a atravessar a rua sem olhar para os lados, estava distraído sentindo pena de si mesmo pensando em círculos. Justamente em que atravessava a rua, um carro atinge Marcelo, não por conta do motorista deixar de apertar violentamente o freio, mas a pavimentação molhada impede o carro de parar. Ocorre um alto impacto do corpo de João com a parte dianteira do veículo, chegando a rachar o vidro. Sendo que logo depois do carro deslizar alguns centímetros com o João, se debatendo em cima do capô, ao parar o carro, aquele é violentamente jogado para frente, rolando em seguida alguns metros a frente. Com o corpo todo dolorido sentindo fortemente as mãos e joelhos em carne viva, o sangue fervendo escorrendo destes, sua mente clareou instantaneamente. A chuva limpava o rubro de seus membros, enquanto Marcelo vislumbrava sua clareza de sentidos apesar do impacto. Estranho é vir justamente esta nitidez com este impacto. Algumas pessoas já se formavam em volta do acidente. O motorista, meio embriagado pelo seu nervosismo, pedia perdão a todos que lhe olhavam. João rapidamente levantou, num salto impulsionado por toda uma paixão. Esta lhe afoga como a chuva agora a pouco, um verdadeiro oceano de sentimentos onde sufocou mais uma vez. Tentaram-lhe segurar inutilmente, querendo cuidar de seus ferimentos ou até mesmo levá-lo ao hospital. Marcelo se desvinculou de qualquer um que quisesse segurá-lo, estava movido pelo oceano de emoções e reencontrou os sentidos ao qual procurava. O coração voltou a bater com vontade, explodindo suas veias em fortes estocadas, estava obstinado, tornara-se uma máquina. Saiu correndo pela calçada não pensando em nada, apenas em sua redenção. Suas pernas, apesar da dor lancinante, mexiam-se velozes em desespero, nem importando a calçada molhada. Parou em frente ao portão de um prédio e apertou com insistência a campainha. Não demorou muito estava bufando afobado no elevador. A roupa escorria água em abundancia. Estava tão desconcertado, que ao tentar abrir a porta, deixa cair as chaves no chão. Agachou estabanado e as pegou. Ao adentrar rapidamente o apartamento encontra o motivo de todo seu oceano de inquietações chorando ao chão, perto da estante onde descansa uma televisão, junto a um aparelho de som. A Mulher cobria o rosto com as palmas das mãos, deixando entrever através dos dedos um pouco de seus olhos verdes, tão lindos e profundos, enquanto que seu cabelo escuro adorna seus braços cruzados em cima dos joelhos. Sentindo a presença de João, os soluços se acalmam e seu rosto se levanta. Ficaram um pouco assim, olhando um nos olhos do outro, tentando se reconhecerem de novo. As lágrimas ainda obscureciam a visão. Ambos limpam os olhos com as costas da mão e continuaram a olhar. A comédia entretanto é a água da chuva que escorria na sala do corpo do homem. Marcelo se aproxima com extrema calma e impaciência diante a mulher, pegando em seus braços com uma ternura invejável. Pingava agora menos. Não há relutância de entrega ao sentimento que voltava a brotar, bem que mais forte em ambos presentes. Na verdade nunca haviam estado tão presentes. Os corpos se abraçam com uma força incomensurável, o calor existia apesar das gotas excessivas de água. A mulher estremece nos braços apertados de seu companheiro, enquanto que a boca deste sussurra fácil palavras que exprimissem qualquer mar incompreensível de palavras impronunciáveis;
- Quem disse que seria fácil – indagou - quem disse?
- Quem disse que seria fácil – indagou - quem disse?
4 comentários:
muito bom loba
caro amigo, as lagrimas ja estavam quase por pular dos olhos mais resisti ate o fim a essa sua tortura de lembranças a q me fez passar... sem falar nas ideias q surgiram na minha cabeça p qda a pessoa voltar... valeu lobato por mais um belo post
LOBAAAAAAA!!!!!!
CONSEGUIII!!!!
AMEI ESSE!!!!SABE Q SOU SUA FÃ,NÉ?!!
NÃO SEI EXPLICAR COM PALAVRAS O Q SENTI QNDO LI SEU CONTO...BOM...ACHO Q É IMPOSSÍVEL EXPLICAR O INEXPLICÁVEL!!!! HAHAHAHA
BJUU
Adorei!
É encantadora a sua forma de se expressar, quando diz: "... O cheiro da chuva arrepiava a todos com uma paixão pela natureza reverenciando nossos instintos mais antigos." e mais...
Parabéns
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