quarta-feira, janeiro 23, 2008

Quem É Quem?









Eu visto Roupas que não são minhas,
E ando em passos que não são meus.
Porque Eu
Eu não sou Eu.

Construí-me através das necessidades
Mas de quais necessidades?
As necessidades não eram minhas,
Tão pouco, as são hoje em dia.
Estas foram inventadas por alguém.
Porque Eu
Eu não sou Eu.

Os bons modos eu deixo em casa,
Assim como a educação,
Pois só tenho uma e não quero que me roubem.
Porque Eu
Eu não sou Eu.

Eu cuspo mentiras e escarro cinismos
Estou sempre atuando pra mim,
E pra todos que me rodeiam
Porque Eu
Eu não sou Eu.

Quem pode construir, construa
E quem não pode se autodestrua,
E consuma tudo aquilo que não deseja
E nunca precisou obter.
Porque Eu
Eu não sou Eu.

Trabalho onde nunca quis
Vivo em um canto obscuro do mundo.
Meus desejos e sonhos são fetiches inalcançáveis
Porque Eu
Eu não sou Eu.

Vi-me um aborto ignóbil e modesto de mim mesmo
Porque Eu
Eu não sou Eu.
Eu sou outra pessoa que eu nunca fui
E você não é você.
Descubra-se
Descubra-se
Descubra-se
Descubra-se…

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Transversas Travessuras.







Estava no assento de espera do analista, olhando para uma outra mulher sentada à minha frente. Tinha cara de louca a coitada; uns lábios grossos transbordando silicone, olhar fundo e penetrante, rugas ao canto da boca entregavam sua idade e a palidez de sua tez lhe dava um certo aspecto brutal de Lexotan. Suas mãos mexiam obsessivamente, hora ajeitando o cabelo, hora procurando sua sanidade no fundo da bolsa, e em certos momentos, estalava todos os dedos da mão com as duas palmas abertas, e todos os dedos se atingindo. Odeio o som dos dedos estalando, é o mais enervante de todas as manias; Plact, pluct, raprapra. Uma melequinha fez seu nariz coçar, e sem nenhum pudor, ela retirou lá de dentro um tijolo de catarro. O que eu fazia ali? Uma mulher de classe como eu no meio dum chiqueiro com esta porca sujismunda. Tentei ignorá-la, mas volta e meia ela coçava sua garganta com um som gutural, mais nojento ainda, blergt! Neste mesmo instante meu analista abre a porta e fala que é a minha vez. O que o ser humano precisa agüentar? Deixei um punzinho pra ela e entrei.
- Oi Dona Carla, tudo bem com você? – Marcos me cerca estendendo a mão num cumprimento. Ele é bem másculo, com as pernas largas e ombros teúdos. Adoro o jeito como Marcos deixa a penugem saindo da camisa entreaberta, fico eriçada como uma cachorra no cio, sinto meu clitóris se mover por de baixo da saia. Eu coço as pernas levemente por de baixo da saia, sinto meus poros abertos e cada milímetro de pêlo em pé.
- Oi Dr. Marcos, adorei sua camisa, sabia? Bem fashion, na moda, está de parabéns. – Falei isso ajeitando o colarinho de sua camisa. Marcos tentou se afastar, meio sem graça até, com um olhar tímido, mas eu fui mais rápida. Seu queixo quadrado me perturbava noite adentro.
- Obrigado, Dona Carla. Pode-se sentar por favor? – ele falou se afastando e me olhando num sorriso áspero. Sentou-se na poltrona, enquanto eu me ajeitava no divã. Deixei a saia levantar um pouquinho, queria que ele olhasse minhas coxas grossas, bem torneadas e femininas. Eu estava de salto, os deixei perto do divã, junto com a bolsa, e deitei. Meus pêlos são tingidos de loiros, o que deixa bem sensual ao olhar de um macho.
- Não precisa me chamar de Dona Marcos, você sabe disso. – Disse em tom jocoso. Amo a voz dele, grave acompanhado de um matiz sombrio.
- Não quero tirar a atenção de nossa conversa, Dona Carla. Eu já expliquei isso pra Senhora. – Adoro quando ele me repreende.
- Tudo bem, você quem sabe...- Fiquei um pouco em silêncio, sentindo toda minha feminilidade. Pensava em mim e no universo infinito. “O universo é infinito. O universo sendo infinito, está em expansão. Existem galáxias, planetas, cometas, estrelas, e uma infinidade de coisas; e outras mais que o homem desconhece...E inversamente existem as células, bactérias, vírus, átomos, prótons neutros, elétrons, e partículas ainda menores já descobertas. Existem seres vivos microscópicos, e pra estes seres, somos o infinito, tal qual o universo pra nós; e assim vai infinitamente se reciclando a vida e a energia e a matéria”.
- No que a Senhorita esta pensando? Está tão calada...
- Não sei, acho que quero ser mãe.
- Você realmente acha que está pronta pra isso? – Marcos se ajeitou na cadeira e tossiu um pouco; Cof, cof, cof. – Desculpe-me.
- Eu estou mais que pronta. Eu nasci pra isso, não vejo a hora de me ver com aquele barrigão. Acho que vou até sair em revistas pra expor minha barriga.
- Você realmente gostaria de se expor publicamente com a barriga? – Eu deixei subir de propósito um pouquinho mais da saia, quando eu cruzei as pernas.
- Eu sempre quero me expor publicamente, em todas as situações possíveis, só preciso de uma oportunidade. – Eu estava realmente divina hoje, sentia exalar todo meu sexo, o que eu realmente era. – Você me acha melhor do que a mulher ao lado?
- Como assim? – Marcos estava confuso. Eu mesma fiquei confusa.
- Digo, - Estava abismada com a falta de classe daquela mulher da sala de espera, no mesmo tanto que curiosa - ...Você não me acha mais sensual, tipo assim, ela passa a maior porcalhada. É uma mulher sem conjunto, casta. Falta uma categoria feminina eu acho.
- Nem todas são como você, né Sra. Carla? – Marcos sorriu numa volúpia de sinceridade. Eu amei. Ganhei o dia. Sentia-me mais viva, com a energia do elixir dos anjos, feito por demônios. Meu coração acelerou inevitavelmente.
- Por isso sinto pena dela, sabia? Ela não é de todo mal, mas falta muito pra ela pra chegar onde estou. - Na verdade, o que eu a faz pensar que pode freqüentar o mesmo lugar que eu? Pensei nestas conjecturas, no mesmo instante em que coçava minha coxa impacientemente, sentia um calor vindo das minhas pernas, fazendo eu me contorcer no divã. Felizmente ele não notou muito, ou pelo menos, eu pensei assim; quis pensar. – Pobre moças. Tenho pena destas Mulheres sem comprometimento com a sua feminilidade. O que somos, nós mulheres, sem poder ser mulher? – Voltei ao meu silêncio inicial. Fico ruminado pensamentos em sussurros intelectuais. Estas mulheres de hoje em dia sem classe, são umas fodedoras ridículas. Parecem coelhas desembestadas. – Você sabia que os coelhos cagam quando estão com tesão. Na verdade eles cagam quando estão copulando, você sabia disso?
- Jura? Isso pra mim é novidade. – Vi que apesar da seriedade, em seu íntimo Marcos ria num descompassado tremer de ombros. – Mas me fale mais, por que diabos os coelhos copulam num defecar contínuo?
- Haha – Gargalhei desinibida. Achei engraçado do modo como ele falou.
- O que foi? – Indagou coçando o braço.
- Nada. – Arreganhei os dentes. Fiquei com medo do batom borrar, então peguei na bolsa um pequeno estojo para retocar os lábios. - Você disse de uma maneira engraçada. Em todo caso, vou explicar; - refiz a boca e guardei o pequeno estojo - Veja bem, você sabia que os coelhos comem as próprias fezes?
- Sim, na verdade é rica em nutrientes. – Marcos falou com tanta convicção. Adoro esta confiança nele, ainda mais quando enfatiza em seu tom de voz, como fez agora.
- Então...É isso. Quando se transa bastante, ficamos mortos de fome, não é verdade? – Brincava com a saia, levantando suavemente e deixando cair nas coxas reluzentes.
- claro...
- Então, o coelho é um animal esperto, ele já copula defecando sua comida, pois sabe que sentirá fome depois. A natureza é genial, não é?
- Haha, - Marcos riu alto, num tom espalhafatoso e bem humorado. Não agüentei e ri junto. O riso sempre despertou o calor por de baixo da minha saia, estava muito estimulada. – Claro!... A natureza é genial...
- Tanto é, que mulher bonita não passa fome. – Interpelei. – Mas carregamos uma outra carga, uma face diferente da luxúria masculina. Algumas mulheres lindas e maravilhosas, acabam se perdendo por conta dos desejos, não só dos seus, mas dos seus homens. Eu andei pensando, e vi que eu poderia muito bem ser uma destas mulheres; perdidas e sucumbidas. Eu ando carregando tanto estes pesos...
- Então por que os carrega? Por conta de quem? Da sociedade talvez, do amor aos homens? – Amava ouvir os pensamentos de Marcos. Ele fluía tão livremente entre os pontos. Mas onde ele se fazia rei, era do meu calor. Aquilo que me faz frágil e mulher; e ao mesmo tempo forte e decidida, onde os homens nunca vão imaginar que possa existir. Ajeitei um pouco os cabelos. Nunca se sabe...Marcos estava tão bem, digo, tão lindo sentado àquela cadeira, de pernas cruzadas, deixando os gestos fluir pelas mãos, que fez eu me sentir insegura quanto a minha aparência. Eu que normalmente me sinto tão linda, me senti tão desajeitada, densa e trivial. Tinha que ir embora.
- Carrego o fruto das interpretações de cada beleza singular do nosso corpo. - Olhei pra cima tentando afrontar seus olhos perdidos em minhas conjecturas.
- O que você quer dizer com isso? - Levantei-me bruscamente, ajeitando a saia pra não subir muito, junto arrumei meu cabelo. Calcei o salto alto e peguei a bolsa, o encarando de soslaio, enquanto ele resmungava alto – Aonde você vai, Dona Carla? Você ainda tem uns dez minutos...
- Não posso ficar, tenho que ir...
- Você quem sabe, ficamos por aqui então. Nos vemos quarta-feira que vem? – Seus olhos estavam cintilantes, ardendo em inquietações. Provavelmente pensando em minha afirmação sobre o fruto e o corpo, algo tão intenso. Mal sabe ele o despudor que é a minha vida. Não consigo expor aqui tais pensamentos, não todos, o que deveria fazer eu mudar de analista, mas não consigo abandonar o Marcos.
- Claro, quarta-feira estarei aqui sem falta, no mesmo horário - sorri tímida. Ainda me sentia comum, desajeitada em alguns passos e a densidade me fez sentir gorda, pesada em meus movimentos. Teria que perder uns quilos. Não dei muito tempo pra ele pensar e, agarrando forte seus ombros, o puxei pra mim e lasquei uns beijos molhados em sua bochecha. Marcos tentou esconder o sorriso e deu uns passos pra traz.
- Até logo...- Saí caminhando com um pouco mais de autoconfiança, rebolava bastante, pois sabia que Marcos olhava a minha bunda. Tenho uma bunda boa, carnuda, rechonchuda, boa de pegar. Adoro quando me pegam de quatro. De súbito surge uma inevitável vontade de ir ao banheiro. Massacro com o olhar a infeliz porca que ainda permanece sentada no sofá. Entro na porta a direita e a tranco, coloco meu grelo de vinte centímetros pra fora, dou uma rajada de mijo e sinto a leveza da bexiga me levando aos vôos pro céu.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

In Aeternum Doidão








Eu quero ser um livro
Ser aquilo o que nunca fui
Sair de mim
Sair de mim
Quero ser um avião
Ser um cometa em construção
Ou um doidão
Sempre doidão
in aeternum doidão

Não importa o título em você
Nem os demônios internos
Se não pudermos ver
Qualquer beleza ardente
Eu prefiro morrer
Ser aquilo o que nunca fui
Sair de mim
Sair de mim
Quero ser um avião
Ser um cometa em construção
Ou um doidão
Sempre doidão
in aeternum doidão

Mude o que puder mudar
Faça o que for pra transformar
Mas seja um livro
Intenso insano profundo profano
Deixem os demônios
Onde sempre estiveram estar
Na ponta da língua
Pra foder e amar
Eu quero ser um livro
Ser aquilo o q nunca fui
Sair de mim
Sair de mim
Quero ser um avião
Ser um cometa em construção
Ou um doidão
Sempre doidão
in aeternum doidão