quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Candeia


Os passos harmônicos com a música soavam descompassados e ausentes de timidez. Uma das mãos tremia na altura do quadril, a segunda mão igualmente tremia ao ar na frente da testa, com os cotovelos dobrados e remexendo no ritmo da música. Seus olhos fixavam-se no quadril gostoso de sua parceira. Moveu-se até colar deliciosamente seu corpo no dela, segurando-a firme em suas costas, todo movimento era de instinto, não havia premeditação, a música é que ditaria o próximo passo. Ela sorria apenas em seus olhos, apesar da boca séria. A sensualidade exalava-se pelos poros de toques firmes. Um perfumado som Caribenho expandia a fronteira do inexplicável sentimento de exultação a vida. O músculo ardia em êxtase no excesso de exercício, só a dança apagaria o fogo causado pela chama da música. O salão estava lotado de pessoas e alegria. As bocas arreganhavam-se em sorrisos e escarros de escárnios da tristeza. Nada seguraria estes pés acrobatas e intrépido diante as incertezas da próxima nota musical. A voz melodiosa sempre atenta à harmonia com os instrumentos, num salpique se cala, assim como todo o resto da banda, apenas o trompete agora soava em um solo magnífico. Junto a este momento surpreendente, os pés também se ouviam ao turbilhão de passos conexos entre si. O Homem segura firme em uma das mãos da Mulher e a gira várias vezes, sem largar a mão, segura na altura da cabeça, dando pequenos passos no ritmo da música. Ele a larga subitamente, enquanto ela, segurando a saia, se afasta em passos e compassos adornando em círculos seu homem. De longe um jovem inexperiente afugentava sua melancolia, causada pela timidez e sua inabilidade ingênua com os pés. Via-se sozinho e sem perspectivas dentro do baile. Apenas batia o pé no chão contando o tempo e cantando a melodia. Apreciava as mulheres com suas coxas a mostras em seus giros e rodopios. As cinturas coladas com os dorsos retorcidos faziam uma linda moldura ao ambiente, e este Jovem em seu terno branco, de calça de linho folgada, um chapéu pendente na cabeça, apesar da sua falta com a dança, pelo menos no quesito moda, estava impecável, sobretudo para o ambiente. O Jovem não se continha em seu canto, seu coração palpitava no mesmo timbre da música, a voz que cantava apaixonadamente, fazendo cínicos em artistas, políticos em poetas e jovens homens comuns desajeitados em dançarinos como este que já, não se contendo, arriscava sozinho uns passos à margem da roda de dança. Sua dança era curta, testava sua capacidade de sentir a canção, ouvi-la com a intensidade que era tocada pelos músicos e interpretar com seu corpo a resposta de tais sons. Ao canto do turbilhão de dançarinos, estava uma irrequieta moça, cabisbaixa pelo simples fato da falta de par. Os olhos buscavam diante os homens mais tímidos alguma resposta ao seu sorriso inquieto. Caminhava vagarosamente em direção a pista, exibindo um lindo par de pernas em puro ardor, deixando ainda mais bonito o seu rebolado em cada passo com seu salto alto. Até que o jovem a vê, e vencendo sua timidez ao meio o transtorno causado pela sua dúvida, toca de leve na mão da irrequieta moça. O sorriso inquieto pendente em seu rosto, tornou-se resposta em um arreganhado riso. Durante a dança as carícias eram feitas pelas coxas, roçavam incansavelmente em um pendulo de lá para cá, e em questões de segundos, nada mais existia naquele show de dança. Apesar dos passos tímidos do jovem, a irrequieta moça, fazia de cada tropeção dele, um caminhar dentro do conjunto da dança. Isto o deixava cada vez mais nervoso e acanhado. Mesmo diante destes sentimentos de retração, sua natureza masculina falava mais forte, ou tão forte quanto sua própria timidez, deixando-se levar neste impulso. A mão deste jovem começou a caminhar pelas costas de sua parceira, em contrapartida a mulher se colou ainda mais junto ao quadril dele. O quente já fervia em gotículas de suor, transcorrendo pela abertura do vestido, deixando em evidência o perfume irresistível que exalava da graciosidade de sua presença. Não se contendo em suas fantasias, o jovem escorrega de manso sua mão até a bunda da irrequieta moça, apertando com vontade, enquanto lhe lasca um beijo no pescoço. De súbito ela o repele empurrando com as duas mãos no seu peito e o esbofeteia com vontade. A música acaba justamente neste minuto do tapa, e no mesmo segundo, o salão está perplexo com a cena, todos se direcionavam para os dois e agora eram espectadores de outro show. O ardido do tapa desperta um fervor nos sentidos do jovem, e mesmo sem a razão, e agora também sem remorso, devolve o tapa com maior intensidade e em um sorriso cínico. A mulher coloca a mão no rosto e ameaça a chorar, só que no primeiro soluço, a lágrima é contida pela boca do Jovem que a invade com sua língua. Desta vez ela não reage, apenas deixa-se levar naquilo que a dominava. Só que desta vez, o jovem não toca de leve na mão da irrequieta moça, ele a segura firme, e decidido dentro de seus desejos, sai arrastando-a abrindo caminho ao turbilhão que já voltava a dançar os ignorando.