domingo, setembro 07, 2008

Cúmplices!







Quais são os sentidos das palavras
Se eu não a tenho para lhe dizer
E não a encontro para me expressar
Tudo aquilo que eu poderia ter
Tudo aquilo que eu queria lhe dar.

Minha vida segue medíocre

Minha vida às vezes vai dos trancos aos barrancos,
Não sei se subo, se desço, se falo ou me calo.
Carrego a culpa de minha solidão,
Minha pátria é minha consciência,
Sempre esperando controvérsias para entrar em guerra;
Meu deleite.

Não vou negar que já amei,
Mas vou negar que já chorei,
Por ti.

Minhas pernas são fortes, porém sem imaginação para voar por tudo o mundo. Talvez pelo simples fato de estarmos todos conectados ao mesmo sentimento de insatisfação disfarçados pelas inúmeras noites de prazeres sem fins e sem objetivo, motivo aparente, nem que fosse por um gol, ou por uma lágrima de alegria pelo simples acontecimento da vida. Por isso talvez estejamos tão vivos; o fervor do bater de um coração, nas mãos de Deus. Não consigo deixar meu país na atual conjuntura que me encontro, vitima e testemunha de uma cidade tão linda, tanto quanto seu criador a quis fazer, cercada de belezas naturais, infindáveis verdes que se espalham com a mesma facilidade de uma borboleta que beija o sulco da flor, um pássaro que nos rasga o céu sangrando de uma timidez por encontrar a lua, mesclando beleza teofânicas e terror humano, comprovando o paradoxo de Deus que nos criou rodeados de imperfeições, para que pudesse se criar à perfeição divina, consistindo em dar vida a tristeza, para logo depois, nascer à alegria, em um sentimento de vingança, fizesse se criar a justiça. Sendo vítima ou testemunha do terror emanado pelas mãos, do Homem, sujas de sangue lavada apenas pelas lagrimas escondidas pelas mesmas mãos tremulas e sujas do mesmo sangue, somos nós os prisioneiros de nossa própria criação para o subterfúgio da violenta natureza que sempre nos ameaçou; demos vida a grande sociedade humana que sem ela morreríamos e com ela nos destruiríamos. Agora nos guiamos, não apenas com nossos instintos presenteados pela natureza, de agir de acordo com nossas necessidades individuais e forma de pensar que é muitas vezes única, que através da dialética conquistaremos ou não a intelectualidade do próximo, consistindo aí, a ínfero ou a superior capacidade de inteligência, que apesar de aderir à idéia proposta, sempre se tem algo a discordar ou concordar, quase nunca se chega a uma decisão para um total de grupos sem inúmeros debates de conciliação, novas opiniões, diálogos ferreamente cansativos que exaurem a capacidade de alguns em compreender o mérito da reunião, é a sociedade que irá nos definir o espírito de sua forma de pensar, moldando formas expressivas de diferentes pontos de vistas, mas sempre não ultrapassando os limites de conduta e de o que é certo para o modo padrão de pensar, confundido os benéficos do bem estar social, com a alienação do indivíduo, que não colhendo informações suficientes, podendo contribuir para sua desenvoltura intelectual, de informações, respondendo suas necessidades únicas e que variam em todo ser humano, acabará por embarcar nos desejos e vontades alheias, coordenadas por poucos e seguidos por muitos, que guiam toda uma sociedade, muitas vezes fúteis, cabendo ao resto a mera condição de vítima e testemunha. Todos acabamos por parte deste conjunto de elementos e idéias que nos define o nosso modo de vida atual, regido pela orquestra ocasionalista, mesmo até nossos algozes do cotidiano, nos matando, levando o que nos pertence por direito, se tornam muitas vezes algozes por cansarem de serem vítimas, não que isto irá justificar os seus atos; a luta de cada um, pertence a todos nós. Os que lutam não deveriam esquecer suas origens, sendo que, em sua maioria, é a primeira se perder, deixada de lado, lembrando a insignificância dos atos de consumos vulgares que cada vez mais nos forçam a crer na importância de suas coisas. É esta a sociedade que vive, consumista, extremamente materialista, cada qual com sua capacidade de obter, por meios lícitos ou não, afinal, toda riqueza inicial provém de uns atos ilícitos, rodeados na contradição de segui-la e repudiá-la, para que suas vontades sejam aceitas e seus sonhos se concretizem, fazer sua parte de integrante desta grande forma única em que vive todo globalizado, ou um pequeno grupo de marginalizados, por esta, no mesmo instante ouvir esta forma viva de organização humana, de ser completamente independente materialmente assim como emotivamente, sozinhos, porém unidos pela solidão.
O dia traz a aurora do pensamento. Alguns que imaginavam encontrar-se em um grande torpor, já vencidos pela melancolia, surgem de volta do covil da inexistência, fincando a bandeira da imaginação, neste dia de hoje, tão límpido, com os pássaros cantando o amanhecer de uma nova rotina, as folhas chacoalhando em um vento úmido, amenizando o calor que afligem os mais idosos, mas que despertam os mais jovens para se amarem perante o sol, ou apenas ficarem, como preferirem. As praias sempre palco, cheias; pombos dividem com o público Homem as areias que rabiscadas pelos ventos dão formatos à paisagem que embora em muitos pontos do Rio possa parecer paradoxal, perplexa diante contrastes, misturando luxo e lixo, contornadas com pequenas pinceladas dramáticas de dor, na praia impera a igualdade, ninguém é mais que ninguém, a não ser o corpo. A beleza carioca também se encontra nas praças...Marcadas pelos jogos matutinos de alguns aposentados que a dividem com inúmeras crianças e seus brinquedos, logram um dialogo marcados pelos que não possuem mais energia e os que transbordam chegando a desperdiçar como loucos correndo em busca da alegria, alcançando apenas na exaustão, as praças com suas belas estátuas testemunham inúmeras alegrias matinais, sempre perscrutando o futuro e analisando o passado que um dia aqui passou, mas seguiu em frente, para não deixar o grande ciclo da vida a desejar. Diante destas mesmas estátuas, algumas repletas de vida, parecem que se movem, semeando sementes nos olhos de quem as vêem, perscrutando os relevos manchados pela idade, acharemos também as manchas de sangue deixadas pelos conflitos noturnos que tomam o lugar da paz brotada de um arfar de esperança infantil, e tristemente concluiremos que a estátua nunca se moveu ou mover-se-á, o que se move é a praça entre a paz e o inferno, causado pelas brincadeiras de crianças que concordam que a morte nunca vem e insatisfações de meninos que sabem que a morte vem a todos, a qualquer hora, em qualquer lugar, mesmo que seja só um menino.
Perto desta praça, um prédio de aspecto soturno, descansa um de nossos heróis do anonimato, que sofrem em silêncio dentro de seu apartamento, prisioneiro de seus preconceitos e sonhos em vão, que raramente se concretizam. A janela de frente para a praça, sempre o faz pensar naquele amor que ele nunca teve, talvez nunca a venha ter. Por culpa sua não posso afirmar, a certeza é uma gota no meio do oceano de probabilidades do mundo moderno, sempre correndo, sempre com pressa, sempre acontecendo e por muitas vezes nos vemos esquecidos em torno de fatos relevantes para alguns, mas que mesmo que você tente esquecer, este fato, que talvez não lhe interesse, vai fazer parte do seu cotidiano. O jornal existe para isto. Como chove hoje, na verdade nunca vi tanta chuva. Podem ser de ilusões, de mentiras, violências, melancolias e, graças ao bom Deus, doses homeopáticas de alegrias. Tenho arte nas veias, não que seja boa, mas é arte; desenhos, músicas, poesias, lembranças - conseguir lembrar as boas é arte. A arte faz-me lembrar a chuva, fria e impetuosa, mas quando se ouve acompanhado a musica de seus pingos, é uma delícia, assim como a arte que acompanhada pela imaginação, torna-se incrível. O pior é que no meio de tantos pingos, eu não tenho guarda-chuva, por conta disto, vou vivendo e me molhando em todas as gotas. Parece ser meio estupidez, mas podemos aprender com todos os pingos, aprendendo não a esquivar deles, tão pouco ignorá-los, sendo este ainda mais difícil, podemos é achar respostas fazendo com que os pingos se evaporem. Hoje me encontro assim, molhado mais que nunca, esperando me secar. Cada vez mais a chuva vai aumentando. Mas das gotas que vou contar hoje, não são todas, mas serão muitas. E haja guarda-chuva.
Debruçado pensante amargo pela espera dela, seu amor do dia, ou pelo menos sexual, vem contemplando sobre suas escolhas que o levaram a solidão de espírito. Apesar desta alma ser faminta por um gozo amoroso e não puramente carnal, seu romantismo adormece no leito das putas, tão solitário quanto ele, mas que para ela tinha a desculpa e o fardo do trabalho escolhido, desta vida viciante, de drogas, festas. Há putas que se drogam para se prostituir, outras se prostituem para se drogarem. Mas o que não dizem o chicote das línguas, é que muitas vezes quem se vicia é o cliente, não muitas vezes na mesma garota, mas no nervosismo, de muitas vezes, a encontrá-la, no sexo fácil, a luxúria, na saudade de um amor nunca reencontrado, ou até mesmo aqui, como nosso herói viciado nas promiscuidades de um sexo sujo, sem contatos mais profundos, apenas superficiais. O que vicia são os sentimentos.
Súbito de interrupto, abrupta um som ecoando pelos corredores por demais silenciosos, uma porta se fechando timidamente, para dar lugar a passos ainda mais tímidos, meio perdido diante das oito portas iguais, tornando todos os andares ainda mais iguais, evidenciando que, apesar de estarmos em Copacabana, não se trata de um prédio luxuoso, apenas mais um -------------, o que evidencia a pouca renda do nosso protagonista, que a partir de agora chamaremos de João Cabeça, vulgarmente chamado. Os andares que não cessam fora de seu apartamento, dão lugar a sobriedade do momento de distração que ficou na praça e as crianças crescendo sem perceber que elas não são as únicas que crescem, ou envelhecem. Meio que de susto, João vasculha seus pensamentos imaginando como seria sua amada de hoje, seus seios, bunda, quadris, o olhar era importante, seria ali que, talvez, ela demonstrasse se o prazer era real ou mais uma ficção da realidade, contida no arfar da sábia ignorância de não se entregar a alguém, o que tornava mais real e intenso seu prazer. Apesar de não conhecê-la, tão pouco chegar a vê-la, este homem ama as mulheres e ama ainda mais satisfazê-las sexualmente, uma de suas principais taras, o que não chega a ser tão repulsivo, mesmo que ele tenha que pagar para isto.
Estava tudo pronto para a manhã nupcial em que havia lhe dado o prazer de reservar, depois de tanto tempo melancólico pela sua condição de solidão em que se aprisionou. A cama era macia, um dos melhores cômodos da casa, talvez o único que prestava, até mesmo a mesa de madeira que ele ostentava com tanto orgulho ao lado da porta de entrada, para onde agora se dirigia apressadamente, deixando o medo dominar sua pressa. Não confunda aqui o medo com o pavor, palavras totalmente distintas se formos encaixá-las no cotidiano carioca. Aqui o medo abraça de forma relutante o coração de João, esperando o desconhecido que fatalmente estar por vir, sendo por conta disto o suspiro da excitação. Em cima da mesa, de tanto valor estimativo, afinal fora um presente de algum ente querido, que agora não daremos importância, descansa algumas roupas que a empregada deixou ali após lavar e ao seu encargo ficou de guardá-las, mas, não só o comodismo, outras vontades são mais prioridades do que um punhado de roupas a borda da mesa, ficando então ali, durante alguns dias, até o dia em que ele vestirá, só para tirá-las da sala. Atrás da mesa, descansa uma pequenina biblioteca, na verdade, poderia dizer, ser apenas uns emaranhados de livros, empoeirados, alguns recentes recebidos em uma promoção de jornal e outros comprados em sebos, o que nunca faltará em Copa. Ofegante, mas tranqüilo, João calmamente destranca suas duas presilhas que prende sua porta além da chave, é muito comum num bairro imprevisível, este tipo de cuidado, pois apesar de ser herói, nos dias de hoje, ninguém é de aço, muito menos João, agora avistando sua amada que procurando dentre as inúmeras portas o número oitocentos e um. Perdida se depara com a porta semi aberta, possibilitando esmiuçar entre a fenda e o facho de luz que ilumina o corredor, o rosto um pouco tímido de João, que ao vê-la, após um breve silêncio, sussurra em voz grave - Babi? – Bem, você que deve ser o João? – Normalmente sim, você me parece estar um pouco perdida, quer se encontrar aqui dentro? – Que gracinha, to louquinha para me encontrar, com licença. Com passos curtos, entretanto decididos, a casa de João se torna menor do que realmente é, deixando os desejos latentes nos poros já suados pelo próprio desejo, mas ainda mais pela inquietação do inevitável e imprevisível gozo. Os olhos de Babi fitam momentaneamente o apartamento de João, criando uma expectativa inútil de adentrar e encontrar inúmeros móveis de alta qualidade e caros, contudo o melhor que podemos lembrar que existe neste confortável cômodo, é a valorizada cama e a superestimada mesa. A janela, ainda arejando o ambiente, através de suaves brisas que adentram por suas esmiuçadas aberturas, trazendo com sigo o amenizar do ambiente, são interrompidas pelo violento fechar das espessas cortinas, sendo agora a sala úmida, escura, invadida apenas pela luz rastejante, fugindo do cômodo ao lado, tentando sobreviver a momentânea noite. Penumbras fitam a sombra da maldade que espreitam no âmago espírito de João, onde sua culpa e seu êxtase vigoram na dualidade de suas ações – Serei eu um pecador? Ou apenas mais um enlouquecido nesta maldita cidade, todos vendidos pela glória do seu trabalho menosprezado, bem, de qualquer forma poderei mais tarde me santificar anulando meus pecados com algumas ações boas, podendo ainda correr o risco de ser salvo, ainda desconheço a salvação. Caminhando até a borda da estante, habitante no meio da sala, perto do corredor que separa a metade da casa, sempre encarando a prostituta de modo natural, como uma convidada, escolhe dentre alguns inúmeros cds, com os vinis misturados ao chão, aquele que em seu mundo talvez fosse o mais indicado deixando na verdade, um clima melancólico para nós expectadores, mas bastante confortável para Babi, sempre esperando como uma hipótese alguma fantasia doentia, ou até mesmo algum espancamento masoquista. “Eu quis amar, mas tive medo, e quis salvar meu coração, mas o amor sabe o segredo, o medo pode matar o seu coração, água de beber, água de beber camara”. Os versos da musica enfeitando o coração dos românticos são aqui friamente absorvidos pelo coração de João Cabeça, que sempre sofreu em silêncio, assim como muitos sofrem sem ao menos saberem por que? Babi, no entanto começou a ficar mais à vontade, prosseguiu com alguns ainda tímidos passos, largando sua bolsa vazia encostada diante de uma das cadeiras a borda da mesa. O que estamos descobrindo, e o que está longe de passar pela consciência do João Cabeça são com que facilidade Babi resolveu carregar este fardo de se prostituir em busca de glamour, talvez a felicidade, a maldição do vício do sexo ou da própria droga, enquanto que o próprio João se vê perdido em seu mundo de culturas, honestidade, estudos, políticas e as mazelas da solidão de um amor intangível buscando refúgio no sexo não gratuito. Daí surge o desconforto da culpa, mas não menos prazeroso do que um simples orgasmo. Por conta de seus temores e inquietações, surge tingindo o desejo a timidez aconchegada pela autocrítica, insegurança e o silêncio desconfortável rondando todo o cômodo, espreitando os grãos de areia que se tornou o ego deste triste coitado. Acostumada com os inúmeros modos do sexo, nas maiores variedades possíveis, no entanto, não esperava deparar-se com tal peculiaridade. Dispensando a timidez, o que certamente não é o grande desafio para Babi, este pequeno caso notório de travar a personalidade diante da possibilidade do sexo pode ser muito comum em jovens virgens adolescentes, mas não com um homem bem resolvido nos assuntos profissionais, não como João que apesar de não ser um homem de grandes proporções financeiras é extremamente capaz de levantar seus sustentos diante do caos econômico que impera no imenso Brazil – Foi algo que eu não disse? – Aproximando-se cada vez mais, a garota agora um toque suave, de leve um carinho no rosto tenso, acrescentou uma gota no imenso mar de insegurança, deixando-o trêmulo, ansioso por um beijo João a afasta com um leve, porém, empurrão – Você não gostaria antes de beber alguma coisa, tenho várias bebidas de cervejinha a um vinho, mas só tinto – Ai, você me desculpa João, mas eu não estou acostumada a beber logo de manhã, fica muito pesado pra mim, porque você sabe né? – Temos que concordar que para certas pessoas, será à noite em que o dia fica mais forte – Entendo perfeitamente, ainda mais em uma quarta-feira como esta, ensolarado, cheio de vida, resvalando na noite, pois se o dia é lindo, incentiva à noite. Entretanto, me dá licença, eu curto muito um vinho para me aumentar àquela minha alegria de momento. Os copos e a garrafa estavam já na mesma estante em que sustenta o som, com certo ar de estabanado prepara um copo e o sorve em um único gole, refletindo em um sorriso acanhado de Babi – O que foi um gole, logo se tornou em inúmeros, e os contidos movimentos, quase que tímidos, de João tornou-se um impulso insano pelo sexo. O desejo latente pela conjunção carnal crescia incontrolavelmente, a saudade das curvas de uma mulher já o enlouquecera algumas vezes, com o vinho ficou ainda maior As posições variavam ao seu gosto, tornou-se outra pessoa. Só podia ser assim quando se apaixonava, era uma conduta típica sua. Não há barreiras para a paixão, nem para um eterno apaixonado que se joga ao abismo em nome de seu amor, nem para um bêbado incontrolável como João.
Os olhos já clamejavam pelo fogo de sua carne, que consumia todo ar, dando uma pequena impressão de ofegante. O amor era intangível. Ardia inclemente ao peito de João, com nódoas de melancolia, pois sabia que seria o último beijo, último toque, último olhar e arfar de esperança. Tanto era sua vontade que se perdia aos lábios de Babi, parecia labirinto asfaltado pelo medo do desejo que abrupta na forma de um beijo seco e inacabado. As pernas o sufocavam com força em torno de seu ventre, arrancando-lhe carícias incontroláveis que pulsam ferozmente nas veias de um sonho amargo, mas o doce é preenchido pelos murmúrios femininos que ecoavam por todo apartamento. A cama se contorcia a cada dança bêbada de dois corpos se amando, ou violentando, entre trocas de olhares secos iluminando cada gotícula de suor que brotava nos rostos cansados. O transito regia uma música assustadora e trêmula caindo impiedosamente por toda o ambiente. Atrás de um pequeno cômodo, observava de longe sob as sombras de cortinas espessas, uma figura assombrosa, conhecida recentemente, apesar deste fantasma, comum a todos os fantasmas, não poder fazer mais nada, apenas amaldiçoar em névoas de uma visão, estava estática a sua frente observando, julgando bem ao fundo dos olhos de João. Em sua face toda a sua hostilidade, as marcas do que sofrera. Todo horror que temia, neste momento havia se tornada realidade, o seu algoz havia lhe encontrado. Abruptamente se desfaz do amor que lhe pesa ao peito usando de força a vontade de sua sobrevivência, jogando-a de encontro ao tapete, já empoeirada pelo suor. Equilibrado sobre seus dois pés gira o corpo em busca de sua sanidade perdida pelo pavor de encarar sua própria morte. No seu total desespero suas mãos socam o ar em busca de segurança, Babi fica ao tapete olhando atônita o que se sucedera, sem acreditar, assustada, porém – O que aconteceu...Meu amor... - João pareceu que ficara surdo, observava apenas a cortina vazia, havia descoberto algo, uma visão inesperada comovendo-lhe os sentidos, o pavor substituiu o tesão, lembrara do acidente da noite passada, o que se sucedera ao individuo que agora voltou para lhe atormentar, João retornou à cama e adormeceu.