terça-feira, março 11, 2008

I - Reflexo Sem Imagem.








Os olhos ainda ébrios pela areia do sono, sentiam-se ofuscados perante a sorrateira claridade que fumegava a visão, formigando assim os sentidos em grandes devaneios torrenciais, entre a memória e a lembrança do que foi realmente o ontem, confrontando a imaginação e a incerteza do que poderá vir, além disso, o hoje e o amanhã. Ficou então inerte esperando realmente aconselhar seu corpo. Passou por sua mente a vaga palavra compromisso, palavra tão forte no comportamento moderno, talvez até na história da humanidade, mas que para este homem não parecia assim uma de suas virtudes, nem mesmo preocupações, por ser demasiadamente egoísta poderia até ser uma das alternativas, no entanto observaremos um outro defeito, sendo defeito dependendo apenas daquele de quem o interpreta, visto como o egoísta sempre achará um outro egoísta, sendo assim uma qualidade. A melancolia é aquela a qual lhe atormenta, e seus sintomas colaterais como o pessimismo, onde até mesmo a preguiça, o impediam de ter o semblante limpo de conflitos. Olhou ao redor, procurando minúcias de uma pista de imaginação que perdera ontem ao dormir.

Queria começar um outro conto, por conta disso havia tentado viver intensamente estes últimos dias de alegria, mesmo sabendo que cedo ou tarde ela sempre se renova, e para renovar ela esmorece. Até a hora em que o corpo cansou da monotonia, precisava esticar as pálpebras ainda enuviadas e densas, não podia sequer pensar em novas palavras para descrever aquele sentimento puído em todo seu ser, sua alma estava carregada de todas as formas de inquietude, resvalando no modo em que se tratava, deixando assim a barba por fazer e o cabelo esgrouvinhado, aquele homem traçava um aspecto de desdém, para consigo e aos semblantes alheios que o observasse na rua, de certo não passaria despercebido, nem mesmo aquelas pessoas que são acostumadas a observar o mundo ao avesso do adverso, lugar de origem em seus pensamentos obtusos em que nada mais lhe é estranho. De sua tez escorreu uma pequena lágrima de suor, lembrando que ao calor o corpo responde com um certo incomodo a um mais simples aquecimento do ambiente. Esta pequena mudança climática repentina o lembrou de súbito em abrir as cortinas de seu quarto e olhar para o mundo que havia esquecido. A imagem do infinito urbano aumentou ainda mais suas inquietações, as respostas que não havia perguntas, mudavam freqüentemente em seu reflexo comportamental perante a atmosfera em que habitava. Ficou um instante parado perante a janela a observar o mundo, pelo menos aquele orbe, no cinzeiro ao canto da mesma, descansava um baseado dos bons, não se fez de rogado e acendeu num segundo. A paisagem era composta por inúmeros prédios enormes que ficavam de frente para a sua habitação, separados pela rua central que passava na dianteira dos inúmeros edifícios. Era de fato um excelente ambiente para se invadir a privacidade alheia, sempre que se quisesse poderia ficar ali inerte no escuro a contemplar as minúcias do cotidiano, indivíduos se barbeando e depilando, arrancando os pêlos que nos lembram a nossa natureza, mas por cômodo, estes são sempre execrados, o escovar de dentes a um leve trocar a roupa de cama, o varrer do chão hipnótico de lá pra cá, sempre de maneira suave e sensível, era tudo magnífico aos olhos de qualquer observador, cada ação incidia em uma longa cadeia inútil filosófica, mas que para poucos não seria tão inútil. Acontece que este homem não se prendia apenas as edificações, seus instintos estavam vorazmente conectados a tudo ao seu redor. Não sabia ao certo por que tamanha curiosidade para com o mundo, junto também aquelas edificações, parecia que havia nascido há poucos dias. Claro que já nos dizia aquele velho sábio; o maior filósofo é a criança que acabara de nascer. Seus ouvidos captavam o menor dos ruídos, tudo vinha a parecer um estrépito, o menor dos sussurros se transmutava em uma ensurdecedora algazarra. Os carros não paravam de passar das mais inúmeras formas, enquanto outros aceleravam de maneira estúpida, na mesma proporção, alguns desaceleravam de maneira estúpida, sempre causando aquele início de caos matinal, o trafego rotulava um tráfico do tempo, uma contínua briga de ceder e conceder, dar e oferecer, contudo, toma mais do que doa. Seu olfato era igualmente apurado, tudo ao seu redor fedia no mais intenso fedor. Mesmo os maiores dos perfumes traziam uma fragrância cheia de histórias e sensibilidade. Há muito já havia abandonado sua mania de limpeza. Morava em um pequeno apartamento em Copa, ao lado de putas, traficantes, cafetões, velhos aposentados, velhos esquecidos e marginais em geral. Não tomou banho, saiu do jeito que estava amassado e emaranhado. Vestia uma calça de linho mal passada, uma camisa social e sapatos bem engraxados, tudo isso num aspecto largado e folgado. Adentrou o elevador e cruzou com uma senhora que o olhou de forma esnobe; ambos sentiram pena um do outro, e resolveram esquecer este sentimento tão triste. A rua fez sua mente girar de forma absurdamente desconcertante. O turbilhão de sons ao mesmo tempo, atormentou seus sentidos, de forma que um vira-lata que passara por ali vomitou em seus pés. O som urbano era ensurdecedor; carros, ônibus, caminhões acelerando, freios e guinchos, câmbios, passos e mais passos, conversas, gritos, obras, britadeira, carros, lojas, capital, folhas ao vento, passos e mais passos, pássaros, helicópteros, aviões, canos, tubos de esgotos, bueiros abertos, passos e mais passos, vidros quebrando, quebrados, acidentes, ambulâncias, carro de polícia, manuseio de armas, marchas, carros, outro caminhão, crianças gritando, crianças chorando, rindo, passos e mais passos, alguém correndo, bicicletas, motocicletas, mobiletes, frutas podres, latidos, miados, berros, falas, diálogos, discussões, e fora as vozes que não se calavam em sua mente. Tudo pareceu tão familiar e ao mesmo tempo tão distante e aturdido andou pela rua cálida.

As proximidades da razão vêm transpassando as nódoas de um antigo vazio, onde sequer sabemos se os infinitos labirintos de equações vão um dia se solucionar. Diante de tais solilóquios, a mente já vinha trabalhando as marcas de antigas cicatrizes, porém sabemos, entretanto, que nunca se fechará, não por culpa de suas forças, sendo estas inabaláveis, e sim aqueles velhos pensamentos que nunca deixarão de rondar os mesmos antigos problemas. Estas escusas amarguravam não apenas o coração deste homem que ali caminhava pensante, sua face trazia as imaculações de sua dor, assim como o reflexo de suas pálpebras em um espelho qualquer, e foi justamente neste reflexo, em uma vitrine de roupas pela qual ele passava agora, que seu queixo dobrou em sua boca, profligando tudo em seu mundo; este homem não reconhecera sua imagem no espelho; não saberia dizer quem era aquela pessoa a sua frente; aquele homem estampado em sua frente não podia ser ele; aquela roupa não podia ser sua; Aqueles olhos não eram seus; a casa em que habitava, certamente não era sua moradia, devia ser de outra pessoa; o trabalho que escolhera, não poderia ser o seu trabalho. Suas escolhas eram meras ilusões, assim como seus pertences nunca o completara, um enorme vazio se apoderou de seus sonhos e a única coisa que lhe restara era fugir de sua própria existência, fingindo ser alguém que nunca fora e nunca desejou ser. Suas pernas tremeram, enquanto a garganta urrava numa loucura arranhada pelo timbre da incompreensão. No desespero colou as duas mãos no vidro da vitrine, não acreditando no que viu; “de quem poderia ser este maldito rosto”? Não poderia ser seu. Este pobre infeliz havia se perdido há muito e nada poderia trazer de volta suas entranhas da sanidade. Alguns transeuntes passavam por ele; o observavam com medo; como quem olha um miserável animal; mudavam de lado da rua, só para não ter que presenciar tal cena aterradora; paravam simplesmente e olhavam com caretas escrotas.

“quem poderia ser? Como assim? Caralho... Que... Que é isso...”.

Não se pode ouvir muito mais. Não havia o que dizer. O silêncio tragou todas as palavras e qualquer nesga de pensamento sucumbiu ao delírio. Catatônico. Olhava em direção a imagem sem dizer porra nenhuma. Numa súbita explosão de nervos; os braços gesticulam desesperados; as olheiras tomam formas de um poço profundo; a boca baba e grita; suas pernas partem em direção ao lar, arrastando o dorso que ainda observa a imagem. A mente parecia uma plantação inestimável de dúvidas e questões. A confusão colhia os frutos e plantava novas perguntas, deixando nosso protagonista perdido em todos seus alicerces pétreos, não sabendo seu verdadeiro eu, não poderia saber do que era capaz, sendo assim, poderia ser o que quisesse, ou até o que não quisesse ser.

quarta-feira, março 05, 2008

O Amor É Pornô.




Sempre ao dormir com você,
acordo a noite e fico desenhando seu esboço;
com os olhos embutidos de ardor
contíguo ainda as lembranças de uma foda em espetáculo,
cheio de flamas.
Será deste fogo o ilustrar em labaredas.
Suas tatuagens tão cheias de cores
aumentando a tonalidade de sua palidez,
uma delicia para a boca.
O sorriso apagado pelas fantasias
enquanto cabelo liso escorrido pela testa,
além de sua respiração leve,
como se as preocupações ficassem no passado e lá morassem.
Fico lhe acariciando os quadris,
mexendo os lençóis em um círculo delicioso,
no entanto nunca deixando você acordar...
Admiro muita a sua beleza...
Seu hálito impregna minha lembrança...
Ai que saudade do seu alento,
sua boca se aproximando fervorosa,
arredia,
cheia de cuspe aliada a baba de um calor interminável.
A língua explora incansável e duvidosa,
dos carinhos que não terminam,
da sua voz adocicada pela melodia
suave e firme,
e garrida de medo, apesar da vontade,
sinto você antes de dormir,
sinto você antes de acordar...
Eu sempre lhe quis
antes mesmo de lhe conhecer,
só não sabia lhe encontrar
mas agora sei...
não preciso de inspiração,
é como se ela morasse em ti.
A tinta é a essência do quadro, é o fundamental pra a existência de toda figura, do misturar de cores e de imagens, e o que vai servir de imagem, vai ser justamente o motivo agente, causa e pretexto do sentimento que surgiu a lágrima, assim como se ouve uma música e chora inexplicavelmente.
sinto que a musica pode ser um quadro, e na mesma intensidade, a tinta pode ser a alma de uma lágrima em melodia....
a sua complexidade alimenta minha curiosidade, assim como minha confusão alimenta sua bisbilhotice.
linda....linda...a motriz de todo o belo....você é assim, uma voragem em miragem, pode ser tudo ou o nada, um verso perfeito que em si só se torna uma poesia completa.
ai... quero olhar nos seus olhos e ver o mundo maravilhoso que só vejo em você.
Uma mulher perfeita tinha que ser louca
é única
não tem semelhante
um ser humano sem semelhantes para conviver; enlouquece em sua falta.