quinta-feira, agosto 21, 2008

Todo Mundo Pro Chão.








O dia seguinte correu livremente como já havia planejado Beto; a corridinha na orla, assistido alguns filmes, lido outros mais livros, deixando para trás o desconfortável e inevitável ócio da greve. A mente trabalha de forma mais convicta e não se aventura por pensamentos sem nenhuma importância, quando os atos ocupados para adormecer o ócio serão praticados conforme foram esquematizados. Já perceberam como acabamos por nos adaptar com certos fatos, esperando ociosamente ansioso que eles mudem, sem ao menos nos ocupar com outros assuntos, na verdade queremos que alguém tome conta desses assuntos do ócio, culpando os acontecimentos como criadores do marasmo em que nos encontramos, enquanto que na verdade o que devemos fazer é assassinar a ociosidade como for possível, assim como agiu Beto, estudando e se ocupando com a vida. Em todo caso, por conta de seus afazeres, o brilhante estudante de Ciências Sociais nem se quer viu o tempo passar, quando saiu do banho, lá pelas seis horas, lembrou-se de ir ver o amigo na Cobal do Humaitá. Não deu tempo para mais nada, pegou algumas tralhas, os seus fardos da humanidade tecnológica, celular, carteira com documentos, chaves do carro e saiu saindo, afinal, estava em Copa e o trânsito podia não ser dos melhores.
Não levou muito tempo e já havia parado sem saber ao menos por quê, só suposições. Graças ao bom Deus, que Deus se tenha, o transito, de início, estava cântico, suave e sereno, nem parecia o bom e velho Rio de Janeiro, mas, tanto que por azar, apareceu a blitz, falsa e verídica, fazendo por se estender em seu caminho, trazendo aquele velho desconforto já conhecido do povo carioca, e, Beto, pardo do jeito que é – Encosta, encosta aí! – Acostumado com os procedimentos enraizados na sua conduta civil, deixou clarear seus faróis e de leve ultrapassou uns emaranhados de cones, o jovem de aparência suave e feições sérias, aterrissou com uma breve distância do último cone o seu carro popular, porém suficientemente em condições para outro automóvel anexar ao seu lado – Os documentos do carro e de motorista, faz favor! - O olhar de serenidade confiança em que Beto observou os policiais foi respondido por um olhar de fúria contida, suprida no reflexo de seus olhos no coldre dos policiais – Ta aqui os documentos tudo em ordem; IPVA, documento do carro e minha carteira de habilitação, pode olhar! – Com mero desdém, o cabo Orlando caminha em volta do carro, observa alguns adesivos – OK! Pode descer do carro! – Os comandos prosseguem – O porta-malas carrega alguma coisa? – Não, talvez uma cadeira de praia – Ótimo, pode abrir – No mesmo instante algo de intrigante acontece. Logo quando passava alguns carros, encosta um outro, com os vidros totalmente negros, ao lado do pequeno carro popular de Beto que de longe observava o carro sendo revistado, quando de repente, mais que de repente, os vidros negros se abaixam e começa a ricochetar para todos os lados possíveis, inclusive para o lado do estudante que em um suspiro de reflexo, joga-se milagrosamente ao chão em busca de uma segurança momentânea. As quatro portas do automóvel que havia estacionado ao seu lado se abrem liberando todo seu caos urbano. Cinco homens armados de metralhadoras e roupas civis saem atirando em direção aos, já agora, supostos policiais, que até agora aturdidos pelos tiros, jazem mortos ao chão, sobrando rastros de violência, o deserto num segundo e Beto noutro ao chão. Alguns espectadores observavam, tudo e todos, atônitos com apropria realidade, cada vez mais ficção. Ainda catatônico o pequeno protagonista observa com o rabo de olho quem caíra, não menosprezando aqueles que ficaram de pé. Mais uma vez o instinto de sua conduta humana desperta enraizada, como dito anteriormente, falando em nome de sua pessoa - PODEM LEVAR O CARRO! AS CHAVES ESTÃO NA IGNIÇÃO – O homem com roupas civis e armas militares puxa de seu cinto um pequeno comunicador e com o mesmo, perto a boca, cochicha algo, para logo depois se dirigir até a presença vergonhosa da mais nova vítima de desgraça alheia, carioca. Tão pouca aquela situação terminara, havia feito suas preces para que diante daquelas circunstancias saísse vivo dali, sem um único arranhão sequer – Calma garoto, está tudo bem agora, já pode se levantar – A mão direita estendida em direção ao jovem ao chão, parecia piedosa, cheio de ternura, apesar do fuzil contraditória empunhado em sua mão esquerda – Esses homens eram traficantes perigosos, estávamos em uma operação sigilosa para prender esses criminosos, mas já foram abatidos, já pode se levantar, fique calmo! – Apesar das palavras saírem altas e claras proferidas pelo homem que se dizia policial, aos ouvidos de Beto, foram meros balbuciar, palavras turvas pelo medo de outro combate iminente. Um pouco aturdido pela cena dramática de mortes surpresas, jamais visualizadas pelo estudante, sendo que, uma coisa é um cadáver na aula de anatomia da faculdade, outra, é a morte assassina que lhe remata os olhos de repente sem aviso – O que? – Foram às únicas palavras que surtaram tranqüila no palco do horror – Foi os que eu disse garoto, somos policiais civis, fique calmo, agora já passou, espere um minuto, os documentos, por favor – Beto não acreditou nas palavras do policial, ficou atônito, mas o medo era pavor, resvalando em um gesto rápido e único, que ao puxar a carteira, cai de seu bolso um pequeno pedaço de seda, que por sorte o policial não viu, pois mais um transtorno surgiria, como irá surgir futuramente – Está aqui, tudo aqui, pode ver, não estava com estes caras – Fique tranqüilo garoto, é só procedimento de rotina. Mas mesmo assim vamos ter que revistá-lo – Não leva muito tempo e Beto é liberado, não quiseram levá-lo para depor, nem tão constar seu nome e suas iniciais, ou qualquer outro tipo de identificação nos autos, apenas disseram – Vá para casa garoto não há nada para você aqui, você já viu demais! – O tom enérgico e imperativo não fez Beto contestar um ai, apenas dirigiu-se ao carro e saiu saindo mais uma vez. Ninguém em sua sã consciência responderia – Mas calma aí, eu sou uma testemunha ocular, vocês não vão querer meu depoimento? E o inquérito dos fatos e acontecimentos, o relatório do flagrante? O que irá suceder-se depois? Não querem que eu vá a delegacia? – Tais argumentos fariam com que qualquer pessoa seja confundida com algum bandido, ou uma perda civil por mais uma bala perdida, o que acontece todo dia nesta cidade, para justificar o seu falecimento. Um pensamento como, “eles devem ter os seus motivos” ou “a corrupção é triste neste país”, ainda mais, “quem é quem nesta cidade? Pouco importa, eu vou é dar o fora daqui!” São alguns dos pensamentos que se passaram diante da aterrorizada mente deste jovem rapaz, que antes de sair de casa, mal sabia ele que ia se deparar com tamanha barbárie.
Por mais que saibamos pelos jornais de que como se encontra violenta a guerra urbana em nossas cidades, nunca achamos que irá bater em nossas portas, vivemos nossa vida aos esmos, felizes sem se dar conta, da violência que cresce e envelhece junto com agente. Acontece que o nosso amigo aqui, o Beto, já sabe disto, mas decidiu viver sua vida longe destes por menores, apenas quer ser mais um ser economicamente ativo sem ter que se preocupar com as mazelas urbanas, ou melhor, humanas. Não podemos esquecer nosso outro protagonista, Rodrigo Santos, que agora já impaciente pela espera, que nunca finda, não apenas por seu amigo, mas terminar logo com este seu sofrimento amoroso em que se viu terminado, mas que a Lê talvez ainda não saiba, conta o tempo e os ponteiros que agora jazem em uma hora de atraso, junto com alguns copos de chope, que não foram o suficiente para alterar o estado deste grande boêmio, mas serviram pelo menos, a pequena alteração de humor, ao invés da grande melancolia e chateação da demora, serviu de piadas infames e críticas irônicas para os pequenos personagens da vida cotidiana que estão por ali a desfilar, a Cobal sempre foi palco de inúmeros encontros e flertes, sem dispensar as comemorações infindas que circundam pela boate de músicos ao vivo – Engraçados aqueles caras, veja só como ele cambaleia quando anda, parece um João Bobo, ele parece que fica parado no lugar de tanto que vai e volta, pobre coitado. O amigo dele nem para carregá-lo ou algo do tipo, está ali mais pela gozação do amigo, de certo é um palhaço. Está certo que já cai algumas vezes, mas sempre em lugares propícios, como em shows e afins – Muito interessante os comentários. Mais interessante é constatar, justos são os calados de almas e espíritos, pois nem a Deus criticam o próximo, apenas deixa existir o mínimo de autocrítica. Esperar de si mesmo é melhor que cobrar incessantemente do individuo ao lado. De certo quando bate o tédio e estamos sozinhos, quando chega a exaustão da autocrítica, nasce o julgamento criticastro, todos que passam é algum motivo de crítica, “olha aquela mulher, tem o nariz estranho” . Não obstante, Rodrigo, também serve para seus vizinhos anônimos ser palco de observações, como, “olha aquele pobre coitado, tomou um bolo da namorada”, ou ainda, para os mais imaginativos, “o que será que aquele cara ta fazendo ali até agora? Faz tempo que está ali. Só reparando em todos e a tudo. Pode ser que ele está esperando alguém. Mas está taciturno, obscuro. De repente ele é um policial disfarçado. É melhor esconder minha maconha”. Somos sempre alvo, mas ninguém percebe, ou finge não perceber.
Quando Rodrigo já havia esquecido o que foi fazer ali, olhando um belo par de bundas que passava pelo local, chega esbaforido, meio ser ar, mas arfando como se o ar fosse capitalizado, e este fosse um homem muito rico querendo demonstrar seu poder de compra, esbravejando ao meio de soluços, quase chorando, um pique olímpico de invejar os maiores atletas, o estudante de Ciências Sociais Beto que agora pouco passara por uma experiência muito educativa nas trincheiras asfaltadas em uma área nobre do Rio – Meu Deus! Puta Que Pariu! Cara você não acreditaria se eu dissesse, mas em todo caso, aconteceu comigo uma história, diria mais, um fato extraordinário e não sei como sobrevivi – o peito esguio de Beto debatia-se de forma desesperado, cheio de esperança por novos ares, literalmente, algum médico que passasse por ali levantaria óbvias suspeitas, não levaria muito tempo para dizer, “dêem espaço para este rapaz respirar, ele precisa um pouco de ar.

terça-feira, agosto 12, 2008

Paladar Agônico.






Pérola,
Perto do seu olhar,
Minhas palavras se perdem em sons.
As letras
E expressões
Tem todo um novo significado em sua boca.
Seus sentidos não chegam a ser sentidos,
E todo amor não pode ser traduzido em uma simples Te Amo;
é o paradoxo de uma agonia no paladar de um beijo eterno.
Sinto você no meu corpo em cada segundo distante,
E a proximidade da razão, torna-se uma remota lembrança.
Preciso do seu afago,
Do calor do seu sexo,
Do despudor e a devassidão que nos eternizam dia e noite.
A mente voa enquanto embalo nossas lembranças,
A semana é insuportável...
Lenta em demasia, ou
Breve de mais;
É tudo ao mesmo tempo,
Não entendo.
Queria poder entender pra escrever tudo que sinto,
Mas me perco nas vãs palavras e em seus sentidos longínquos.
Aspiro ir além daquilo que poderia explicar tanta beleza,
Entretanto
Me sinto cada vez mais distante.
Amo-te.

segunda-feira, agosto 04, 2008

A Pérola; A Ostra E A Insólita Concha.









O sol doce na boca dos inquietos,
Chispam no reflexo das águas deslustradas
Pela consternação.
Vejo queimar suas flamas num mar de terra infirme.
Em sua crosta,
Limo;
Escorregadio,
Traiçoeiro nas rochosas montanhas no limiar da razão,
Um passo em falso e,
Sem sentidos do ser,
A idoneidade pode ser insuportável.
As pedras me cobriam e soterravam com tamanha volúpia,
Que a atmosfera criada
Aprisiona-me numa claustrofóbica existência
Junto ao meu íntimo,
Calado no preconceito;
Das formas delatoras;
Do repúdio;
De calor e
Prisioneiro do desejo que me esquece a carne.
E desta carne a guerra adentra o coração.
Não havia como fugir.
A música me aterrava os punhos
E cerrava os olhos,
Buscando nas minúcias lhe encontrar.
Contudo,
Dominou-me a aversão.
Cada nota de esperança,
Sorvida por um beijo sem paixão,
Tornava-se o desperdício.
Virei intérprete.
Atuava em vão em vã consciência.
Das rochas perpetrei meu organismo.
Fechado na escuridão,
Fiz-me ostra de uma insólita concha
Ainda que oculto,
Vivendo em rascunhos adormecidos,
O fulgor estala numa intrépida transposição,
Onde a Pérola iluminou de sobressalto
Todo o organismo destas rochosas viscosidades,
Uma razão firme,
Genial;
O amor é mais
Do que a razão pode conceber
Nada pude evitar,
A não ser me render
De corpo
A cada pedra
Num breve suspiro de amor.
A Pérola enriquece
A insólita Ostra.
Arranco-lhe a boca num chupão,
Hausto sua viscosidade num tenro vinho de gozo.
Rubro,
Tal qual o sangue,
Jorrado pelo descontrole.
Refiz minha concupiscência.
Volver a pérola tornou-se um capricho,
A extensão dos presentes
O único dos brindes que completa a pessoa que arde no íntimo.
A boceta me cala ao me colar a boca;
E me faz urrar o incompreensivo.
Tremo os poros do desejo,
Mordendo os lábios; Aperto a bunda.
As pálpebras se fecham inconscientemente.
Sinto a dor como um prazer homérico,
E nas nuvens de um escuro sentido,
Morro em milhões de pedaços
Num segundo de explosão,
Que se perpetua.
Afogado pelo prazer,
Abraço-lhe firme num sorriso aliviado,
Suspiro aéreo em vôos distantes,
A mente vaga.
O amor louco que todos fogem,
Em mim traz a razão de ser.

Lobato Dumond.