
A planície deserta trazia um horizonte promissor. Apenas as pastagens agudas, em seu verde mais vivo, eram vistas a olho nu naquela bela paisagem. Diante de tanta suntuosidade, fazendo lacrimejar os olhos virgens de tristeza, fitava em seus pensamentos o porquê daqueles malditos "sentir", uma mulher de fibra e gana que sempre forjou de sua vida, a luta por um bom senso comum. Sim, ela pensava em viajar...Seus olhos cravavam o ar buscando alguma ponderação aparente sobre os aspectos que afligiam suas idéias aquele momento tão magnífico, não chegando a conclusão aparente das esquinas de suas inquietações; a margem de uma idéia é onde desencadeia todo o mar de um; por que? Vendo que nada havia de afastar a imagem louca de paixão que a perturbara, decidiu não mais se mover ante a maré. Desligou tudo a sua volta, as máquinas, as janelas, as visões, até mesmo as incertezas de seu próximo passo. Ficou ao escuro com sua imaginação que nunca adormecera.“...Minha vida anda trazendo enormes vícios de regras em que nada me dizem, vivo premeditadamente aos pés de uma mesa rica em comidas, queria poder levar para longe todas estas estúpidas idéias, quero foder em paz porra, e não me deixam. Acho que estou deixando passar momentos realmente significantes para mim, e que nunca voltarei, eu sei disso. Mas e o pragmatismo? As regras que custei tanto a aprender? As responsabilidades? Foi tudo tão difícil e vou jogar tudo para o mar de inquietações como uma adolescente? Seria este o correto? Ou nossas verdadeiras responsabilidades são em dar respaldo aos nossos verdadeiros sentimentos desde que não tragam prejuízos a ninguém. Acho que estou vivendo paralelamente com a reta de meu próprio ser, e antes uma parábola, com retornos proporcionais, a paralela, onde nunca se cruzará com as minhas verdadeiras paixões. Antes até mesmo a tangente e sua reta...”. Seus pensamentos fugiram por um segundo de suas metas para dar lugar a um inusitado acontecimento, enquanto sentia a treva em seus sentidos, sentiu também em sua face o resvalar de um cabelo caindo em sua tez. Não sabia bem o que realmente era, ou de quem era. Ao perceber que o que caía era a sua própria penugem começou a tentar segurá-lo. Com as mãos em algazarras tentava inutilmente prender o cabelo da maneira que queria, correndo até o banheiro ascendeu a luz e se olhou no espelho. Ficou a fitar suas olheiras profundas que saltavam aos olhos logo que vislumbrassem sua face, e lacrimejando olhou para os seus longos dedos fortes retraindo-se involuntariamente, assim como emagreciam perdendo seu aspecto vivaz. A pele que jovial sempre adornara sua beleza de maneira tão crepuscular, esvaía-se pungente e fugaz, parecia apodrecer e murchar. A jovialidade a abandonava em velocidade absurda, suas forças arqueavam em todos os significados, queria apenas voltar para sua treva de reflexão, ou a um mundo dos sonhos, onde talvez chorar serviria de algo. De repente, não mais que de repente, levanta-se violentamente do chão. Com a cara amassada e os olhos latejantes de pavor, esfrega-os de forma desordenada e, percebendo que se encontrava na sala novamente, corre para o espelho do banheiro. Olhando de novo a sua beleza, tão magnífica, tão jovial, onde faltariam poetas a descrevê-la, encheu-se de satisfação suspirando apaixonadamente pela vida. Voltou para a sala e pegou seu celular em sua bolsa. Discou um número – Oi? Amor? Compra minha passagem, eu vou com você!