

Que sol absurdo. Minha testa pingava aos prantos por um copo d’água, a camisa parecia um pano de chão, enquanto caminhava em direção ao Banco do Brasil. Incrível como o sol pode castigar uma condição física, não suportava dar um passo sequer, no entanto continuava caminhando, em passos curtos e pesados; um deserto não seria tão quente. Entrei no banco da agência próxima ao Largo do Machado, o contraste do clima me levou ao gozo; uma enxurrada de gelo causado pelo ar condicionado acalmou minhas súplicas, nunca senti tanto alívio. Precisava fazer um depósito de pequena quantia, não precisava ir até o caixa, decidi ir ao caixa rápido mesmo, acontece que havia um papel em cima do monitor, avisando que a máquina estava emperrada, comecei a caminhar em direção a outra máquina, quando um funcionário me chama a atenção:
- Senhor. Este caixa rápido não está funcionando, todos os depósitos devem ser feitos no caixa. – incrivelmente o funcionário trajava terno e gravata. Muitos nas ruas trajavam terno e gravata; outros usavam calças e mangas compridas, isso num clima de matar qualquer idoso de calor; os índios estavam certos, isso aqui é país para se andar nu, enquanto isso, gastamos e desperdiçamos milhões em energia. Caminhei a contragosto para o caixa. Logo na porta giratória sou barrado, uma voz metálica indica que há algo metálico comigo. Despejo tudo que tenho nos bolsos dentro de um compartimento na própria porta; quatro chaves com três chaveiros, um celular, outro celular, e só. O guarda observou bem e me liberou. Entrei numa fila absurda. Dois funcionários atendiam nos caixas.
- Hoje as máquinas não funcionam, ontem faltavam envelopes para depósitos, semana passada faltou energia. – Disse uma mulher de óculos e cara de intelectualóide na fila. Tinha beiços avantajados, imaginei como seria um boquete; machismos a parte, deveria ser muito bom, apesar de ser meio estrábica.
- Sempre tem um problema nestes bancos. – completou um cara na minha frente. – Nunca tem funcionários o suficiente para atender as pessoas nos caixas.
- Não é a toa que é o Banco do Brasil. - interrompi. Todos gargalharam. O Banco do Brasil não é uma instituição financeira que resguarda e zela pelo dinheiro do povo brasileiro. O Banco do Brasil é um banco, um assento, uma cadeira de uma praça onde todos sentam e esperam, e nada acontece. Nisso um dos funcionários passa reclamando que o valor no seu contra xeque veio errado, estava faltando alguns reais. Achei melhor não comentar, havia pessoas armadas no recinto. A maioria das pessoas na fila estava depositando. As horas correm depressa numa fila, o saco incha e as pernas criam varizes em meados de segundos. Quando você olha no relógio, já se passaram quarenta minutos. Fiz o que tinha de fazer com cara de cu, não sei se a menina do caixa tinha alguma coisa a ver com a demora, mas de sete caixas do banco, apenas uma funcionava. O Banco do Brasil; o nosso banco, a nossa praça.
Lobato Dumond.
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