
Entrei em casa numa pressa sem controle. O suor começava a escorrer pela têmpora, minhas mãos também carregavam os indícios de um estômago atropelado por merda; apertava firme o punho, fazendo todos os movimentos estabanados. A porta bateu com enorme força, o estrondo ecoou por alguns andares no edifício. Vou direto pro banheiro, arreio a calça e meto um quilo de bosta pra fora. O alívio me toma de imediato, refletindo num leve sorriso. Pego um jornal que já estava no chão a minha frente, não era do dia, mas servia pra passar o tempo. Sentia o cocô saindo espremido entre minha bunda. O odor ainda não incomodava, pois o traseiro tampava a saída da fetidez. O tempo não demorou muito a passar, as notícias cotidianas do caos urbano inflamaram a merda toda; alianças políticas; desgaste político; verbas mal aplicadas; desvio de capital; assassinatos; tráficos; chega. Levantei e para minha infelicidade, constatai que o papel higiênico havia acabado. Isso não podia estar acontecendo agora, estava atrasado pro trabalho, o tempo comia meus neurônios, aliado ao estresse de ter que pensar em cada minuto como tempo perdido de vida, e eu amaldiçoava meu corpo fétido. Os troços boiavam n’água e, no segundo em que me levantei, o perfume já dominava tudo em volta. Não, eu não estava morto, ainda não. Sai casa a fora procurando algo que eu pudesse me limpar. Andava em passos curtos ao redor do apartamento. A bermuda arriada prendia um pouco minhas pernas, fazendo-me andar de forma engraçada. Fui à dispensa e o papel higiênico realmente acabara. Estava literalmente na merda. Sentia os pedaços restantes entre as bandas, incomodava esta sensação. Tinha que inovar. Fui ver se tinha guardanapo; nada também. Os papéis que havia na casa iriam machucar meu rabo. Amassei um bocado de jornal no intuito de deixá-lo mais suave. Limpei-me e senti incomodado ainda. Não houve alternativa se não tomar banho. Merda.
3 comentários:
Caralho que merda!
Atire a primeira pedra quem nunca fez isso!
Gostei da relação com as notícias do jornal e de onde diz "ter que pensar em cada minuto como tempo perdido de vida". Acho que poderia ter explorando isso no final!
Escreva mais um. Desde 14 de abril que vc não posta nada!! gosto de ler seus contos.
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