

Não havia muito tempo que eu havia acordado de uma ressaca fodida de uma noite escrota e sem vitórias. Estava na sala esperando algo de bom acontecer, porém não queria ir a busca de algo, queria que o algo viesse até mim, o que é bastante burro e incomum. Cagava pra estes aspectos masturbatórios filosofais e continuava moribundo no canto da sala, remoendo infinitas sensações onipresentes; tédio, enfado, aborrecimento, alegria, fausto, delírio, esperança, exultação, desvario, alucinação, fantasia e a minha breve imaginação infinita. Pensava na fórmula milionário de alguma arte contemporânea; algo como um quadro nunca feito, visto ou encenado antes. Peguemos um gênio autodestrutivo, em sua fase mais decadente e oscilante entre a melancolia e a depressão. Caído ele não irá a lugar nenhum, não terá pra onde fugir ou correr, e um singular desejo suicida brotará em seu fluxo vital. Coloquemos uma tela perto dele e esperamos ele explodir a cabeça. A tela ficará formada por miolos, partes do crânio, sangue e outros dejetos cerebrais; “Voila”, é só colocar uma moldura e será uma obra de arte que valerá milhões. Imagine você caminhando pelo Louvre e lá pelas tantas o instrutor do museu lhe explica.
- Este aqui é o famoso quadro “SuicidARTE”, de Luck Jan Pierre. A vida pode ser insignificante, mas o sentido dela pode ser consumido em apenas um ato inimaginável. – Você então para, olha e fica ponderando aquela merda toda espalhada como uma mancha incompreensível pelo vermelho e o negro.
O susto acelera meus batimentos cardíacos, fazendo meu coração ser cuspido pela boca , ao me engasgar com o copo d’água. O motivo foi a entrada abrupta de dois camaradas meus; Joaquim e Magreen. Com este nome já deve se ter uma idéia do que vem por aí.
- Fala aí brotheiiiii! Ta fazendo o que aí? Olhando pras estrelas do amanhã? – Joaquim disse meio risonho e com um aspecto de deboche. Saiu entrando e trancou a porta, enquanto Magreen se aproximou e sentando ao meu lado, olhou-me com um leve sorriso cínico nos olhos. Despejou uma mochila aos meus pés e tirou de lá alguns utensílios como tesourinha, isqueiro, e dois míni sacos plásticos.
- E ai viu o último jogo da seleção... – Magreen perguntou.
- Cara, na boa, – Comecei a me ajeitar no sofá enquanto dizia – Achei uma verdadeira bosta de jogo. Que timinho é aquele...
- Muito ruim aquela merda. Parei de ver no meio – Interpelou Joaquim – na verdade vou parar de ver jogos da seleção. Só vou ver jogos do meu Mengão agora!... O time do Brasil não têm um pingo de vontade em campo, não vemos entusiasmo.
- E olha que contrataram o Dunga justamente pra ver se o time ganha algum tipo de incentivo, ver se vibra mais em campo. – Disse num tom descontente.
- Sei lá... – Magreen caminhou até a cozinha e se serviu de um copo d’água.
- É que tudo agora é estrela rapa. Só quer saber de putaria, festinhas e sair na capa de revista. – Joaquim falava com bastante convicção, gesticulava e, em certos intervalos, coçava o nariz entupido que lhe dava uma voz fanhosa.
- Claro ta tudo visível – Resmungou Magreen voltando da cozinha.
- Precisamos é de paixão, de amor mesmo, de raça e vontade – Afirmei – Claro que técnica é importante, mas quem não se empenha, não adianta a técnica. Tem que parar de pensar um pouco em si, e passar a pensar no coletivo...
- Claro! – Magreen ligou a televisão – Os malucos têm que se conscientizar, eles representam o Brasil, porra. Muita gente torce pelos caras e eles nem aí. E o Dunga...
- Coitado do cara. – Joaquim interrompeu – Imagine só você ter que comandar vinte dois malucos, bem sucedidos, milionários, reconhecidos profissionalmente e reconhecidos mundialmente...
- Deve ser uma merda mesmo – completei.
- Com certeza – Concordou Magreen.
- Mas, existe técnicos que conseguem se fazer ouvir; Felipão, Leão, Luxemburgo...- Reargumentei.
- Claro! Ó o nome dos caras, terminam com ão, porra. E Luxemburgo é nome de país chique da Europa, aí nego treme – Joaquim riu de si mesmo e complementou - O Luxemburgo que deveria ser técnico da seleção, o cara manda pra caralho.
- Eu acho que ele, atualmente, é o melhor técnico do Brasil – Concordei.
- E a Argentina? – Magreen sentou de volta ao meu lado e começou a mexer em suas coisas – Os caras tão papando tudo, tão jogando pacas.
- Pena que eles acabaram de perder a invencibilidade pra Colômbia. – Joaquim disse meio acalmado pelas imagens da Tv.
- Pena? hahaha - Riu alto - Mas aí – Interpelou Magreen, segurando um míni saco plástico em cada mão – O que vocês preferem? Robin ou Messi? Haha – Lançou uma breve gargalhada.
- Sou mais o Robin Bicho – Joaquim sorriu e frisou – O robin é mais aguçado, deixa tudo mais ágil.
- Nem acho – Comentei – Prefiro o Messi. Mais solto, rápido e parece lhe dar mais visão de jogo.
- Nada – Joaquim ia querer ficar nessa – o Robin desfaz no campo brotheiii, muito melhor. Não dá pra dormir no jogo. Viaja bem mais em campo.
- O jogo pra mim fica melhor com o Messi. Fica mais natural. – Ri baixo. - E tu Magreen?
- Porra Bicho, eu vou de Robin, bem melhor! Dá mais pulsação em campo. Hahaha...
- Então beleza...Robin então. – Concordei, afinal sou um bom perdedor, tudo pela democracia? Magreen guardou um dos míni sacos e começou os preparativos.
- Messi? – Gritou Magreen.
- Robin? – Continuou Joaquim.
- Um de cada. sei lá! Hahaha – Gargalhei ecoando pela sala.
2 comentários:
Parabéns, adorei seu blog.Passei uma hora aqui saboreando tudo.Adorei "reencontrei vc", bjs
Bota uma legenda pras almas inocentes aí.. ehauehauehau
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