




Prefácio Escrito Por Carlos Lima, Do Livro; A Matilha Do Cachorro Louco;
Imaginai o mundo que Marx previu em O Capital, imaginai um mundo após o apocalipse capitalista, imaginai um mundo sem amor, sem piedade; um mundo sem utopia de qualquer espécie, é este d’A matilha do Cachorro Louco. Imaginai Céline numa viagem ao fim do esgoto, a Noite das Walpurgis sem Goethe e Meyrink, Adrian Leverkuhn sem Thomas Mann. Imaginai o livro que Henry Miller não escreveu: O Pontapé na Bunda de Deus. Imaginai o mundo de Maura Lopes Cançado onde o Hospício é Deus, mas um deus desativado e deletado, totalmente alienado de qualquer resquício humano ou então, o mundo transformado na Enfermaria no 6 de Tchecov: “abandonai toda esperança, os que entrarem”.
Este é o mundo d’A matilha do Cachorro Louco, mundo da concentração total da reificação do Capital onde o humano não existe mais, o futuro sem passado, o passado sem presente, o presente sem amanhã; não mais numa ciranda financeira mas tão somente a fusão e confusão na concussão do êxtase enantésico da suruba financeira. Consola-nos neste Inferno de Wall Street, o fragmento de Taturema do canto II do Guesa Errante do poeta Joaquim de Sousa Andrade:
“- Indorum libertate
Salva, ferva cauim
Que nas veias titila
Cintila
No prazer do festim!
- A grinalda teçamos
Às cabeças de lua:
Oaca! yaci-tatá
Tatá-yrá!
Glórias da carne crua!
- Missionário barbado,
Que vens lá da missão,
Tu não vais à taberna,
Que interna
Tens-na em teu coração!”
Carlos Lima.